"Tu te tornas eternamente..."

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas", isso foi o que a raposa disse para o Pequeno Príncipe, neste clássico de Saint-Exupéry. Uma citação clássica, que sempre foi usada para me manipular.
Concordo que somos responsáveis pelos afetos (e desafetos) que geramos no mundo. Mas os que usam essa citação comigo normalmente querem atenção desmedida (aquela mesma que a tal rosa histérica do romance pede). Acho que me faço entender melhor com um exemplo:
Na adolescência eu estava sempre com os amigos, a maioria homens, oito, eu e a Aninha, neste grupo de dez que andava entre reuniões militantes, pizzarias e festinhas matinê. Um belo dia, um dos meninos do grupo resolveu se declarar para mim, dizendo que estava apaixonado e tal. Só que não era recíproco, eu gostava de um outro, que não era da turminha cotidiana, mas era conhecido de todos, e disse isso para o rapaz "apaixonado".
Foi aí que a merda se deu. Ele começou a dizer por todo o lado que eu o tinha iludido e deixado na mão e, acreditem ou não, o carinha de quem eu gostava se afastou de mim por isso. O tal "apaixonado" me perseguiu por anos porque "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"! Essa foi a praga que ele me jogou.
Minha mãe dizia que eu tinha que namorar com ele e muitos amigos insistiam nesta história. O cara, claro, foi se tornando cada vez mais repugnante para mim. Todos os carinhas de quem me aproximei neste período, inclusive um namorado, foram vítimas de seus joguinhos absurdos. Parecia uma história que não ia acabar nunca, como se eu estivesse num episódio do Twilite Zone.
O que mais me intriga neste tipo de comportamento chantagista é que ele pode vir de todo o tipo de gente. Tá cheio de mulher que se diz independente e que fica perseguindo caras que gostam apenas de transar com elas (convenhamos gente, este é um comportamento aceitável hoje em dia, todo mundo tem pelo menos uma experiência que só sexo e nada mais, isso é normal).
Essa perseguição, no caso das mulheres, pode acabar no antigo golpe da barriga. Parece coisa de novela, mas tem muita gente ainda aprontando esse tipo de presepada. Engravidar para casar já não cola mais, né? Mas conheço alguns casos do tipo e sempre fico chocada.
No caso dos homens, acho que até tive sorte, porque o cara só foi chantagista mesmo, muitos casos partem para violência física. Aqui em Brasília (e não só aqui, eu sei disso) é comum ex-namorados matarem as ex-namoradas por ciúme, pura possessividade doente.
O fim do tal rapazinho perseguidor, neste exemplo, foi o afastamento definitivo. Não o vejo há mais de quinze anos (é, não sou mais uma mocinha), mas recebi notícias não muito agradáveis sobre ele, que é totalmente desajustado e tem vivido quase como mendigo (não fosse a família...). Não, não tenho pena. Também não me divirto com esse fim horrível. Agora uma coisa é certa: ele se tornou eternamente responsável pela repugnância que cativou em mim.

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