Afrika e eu
Nasci em Parelheiros, bairro longínquo da zona sul da cidade de São Paulo. Vivi ali mais de vinte anos. O lugar é tão longe, que um filme feito na área se chama Onde São Paulo Acaba.
A primeira escola em que estudei foi a Jorge Saraiva, estadual, que ficava em cima de um morrinho, na bifurcação entre a Estrada de Parelheiros e a Estrada do Varginha. Atrás da escola tinha a favela de Serra Pelada. Para o resto do mundo o bairro todo era uma favela, com aquela casas sem reboco típicas e ruas desordenadas, com muitos becos. Mas para a gente, que morava ali, favela era só aquele pedaço atrás da escola.
Duas vezes por ano aconteciam festas na escola: a tradicional festa junina (uma vez fui miss caipirinha) e a festa da primavera. No prédio tinha um espaço para biblioteca, que ficou vazio mais de uma década, era lá que era feito o baile.
O baile consistia numa equipe de som (hoje chamam de sound system) que colocava black music durante o dia todo, as festas normalmente acabavam por volta das 20h. Isso era nos anos 80, então essa turma era identificada como "os função", que disputavam espaço com os punks e metaleiros.
Foi nesse ambiente que conheci Afrika Bambaataa. Dançávamos o disco todo com o baile inteiro fazendo a mesma coreografia. Aqueles baixos me arrepiavam toda e foi com ele que ouvi algo de Kraftwerk pela primeira vez, no famoso sampler de Trans Europe Express.
Naquele tempo o hip hop me encantava. Meus pais sempre faziam compras no Mappin do centro, em frente ao Teatro Municipal, e eu podia ver os breakers no Viaduto do Chá fazendo suas inacreditáveis coreografias vestidos em conjuntos amarelos e, claro, ao som de Afrika Bambaataa.
Não demorou muito e a febre rap tomou conta do bairro. Tinha campeonato de grupos de rap na churrascaria do Recanto Campo Belo e isso adiou por um tempo a entrada de muitos meninos na bandidagem, creio que até evitou a de alguns. Nesses dias já era possível ver alguns lambe-lambe pela área anunciando show dos Racionais, que são da zona sul também.
Fim de semana passado, aqui em Brasília, pela primeira vez vi uma apresentação de Afrika Bambaataa. Foi ele entrar no palco e essa história parecia estar ali na minha frente de novo. Demorou um bocado para começar e esperamos ouvindo esse hip hop novo. Eu falei um bocado sobre como não gosto desse universo bling-bling, de neguinho fazendo apologia ao sexismo e à ostentação. Bambaataa me fez lembrar de um tempo em que o rap fez muita gente suburbana, como eu, pensar em si mesmo.
A primeira escola em que estudei foi a Jorge Saraiva, estadual, que ficava em cima de um morrinho, na bifurcação entre a Estrada de Parelheiros e a Estrada do Varginha. Atrás da escola tinha a favela de Serra Pelada. Para o resto do mundo o bairro todo era uma favela, com aquela casas sem reboco típicas e ruas desordenadas, com muitos becos. Mas para a gente, que morava ali, favela era só aquele pedaço atrás da escola.
Duas vezes por ano aconteciam festas na escola: a tradicional festa junina (uma vez fui miss caipirinha) e a festa da primavera. No prédio tinha um espaço para biblioteca, que ficou vazio mais de uma década, era lá que era feito o baile.
O baile consistia numa equipe de som (hoje chamam de sound system) que colocava black music durante o dia todo, as festas normalmente acabavam por volta das 20h. Isso era nos anos 80, então essa turma era identificada como "os função", que disputavam espaço com os punks e metaleiros.
Foi nesse ambiente que conheci Afrika Bambaataa. Dançávamos o disco todo com o baile inteiro fazendo a mesma coreografia. Aqueles baixos me arrepiavam toda e foi com ele que ouvi algo de Kraftwerk pela primeira vez, no famoso sampler de Trans Europe Express.
Naquele tempo o hip hop me encantava. Meus pais sempre faziam compras no Mappin do centro, em frente ao Teatro Municipal, e eu podia ver os breakers no Viaduto do Chá fazendo suas inacreditáveis coreografias vestidos em conjuntos amarelos e, claro, ao som de Afrika Bambaataa.
Não demorou muito e a febre rap tomou conta do bairro. Tinha campeonato de grupos de rap na churrascaria do Recanto Campo Belo e isso adiou por um tempo a entrada de muitos meninos na bandidagem, creio que até evitou a de alguns. Nesses dias já era possível ver alguns lambe-lambe pela área anunciando show dos Racionais, que são da zona sul também.
Fim de semana passado, aqui em Brasília, pela primeira vez vi uma apresentação de Afrika Bambaataa. Foi ele entrar no palco e essa história parecia estar ali na minha frente de novo. Demorou um bocado para começar e esperamos ouvindo esse hip hop novo. Eu falei um bocado sobre como não gosto desse universo bling-bling, de neguinho fazendo apologia ao sexismo e à ostentação. Bambaataa me fez lembrar de um tempo em que o rap fez muita gente suburbana, como eu, pensar em si mesmo.
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