Ano novo

Sonhei que uma pessoa me fazia brincar com vidros para se divertir me vendo ter os braços machucados. Era doído, mas eu não conseguia não fazer. Me curava e era convencida novamente a fazer aquela brincadeira perigosa, que poderia me deixar sem os braços. As feridas eram fundas.

A coisa se repetiu por duas vezes. Antes da terceira, eu vi o verdadeiro rosto da pessoa, não mais jovem e atraente, mas envelhecido, com cara de quem quer parecer algo que não é. E via assim porque tinha várias pessoas atrás de mim, me amparando. Eu me sentia quente, protegida, querida por essas pessoas todas que me apoiavam para que eu dissesse não.

Achei este sonho o símbolo perfeito desse meu novo ciclo. Foi um ano inteiro no meio de uma pandemia, no pior lugar do mundo para se estar durante. Mas foi um ano em que o isolamento e o medo da morte que nos cerca me fez mais forte contra o que me faz mal. Não faz sentido manter mais nada que me faça mal, quando o mal já está nos rondando o tempo todo. Fortalecer o amor em mim e em quem eu amo reciprocamente. Cobranças desproporcionais, condescendências, desamores de todo tipo estão sendo cortados todos. 

Hoje, sinto um pouco de melancolia por este percurso ser necessário, mais uma vez. E sinto que algo bem profundo foi retirado de mim, como um caco de vidro incrustado na pele que voltava a infeccionar e me contaminava de desamor quando eu me sentia vulnerável. Consegui meu lugar de afeto que me ampara e me faz ir em frente, agora. Espero que assim permaneça. 

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