Tanta pressa para chegar em lugar nenhum

Faz algum tempo que tenho esta sensação de não sair do lugar. Um movimento frenético a minha volta.
Pessoas bem sucedidas compram casas, carros, estruturam famílias, fazem filmes, livros, tudo rápido, rápido.
Embarquei brevemente numa coisa aqui, em outra ali. Mas, de repente, senti que nada daquilo me pertencia. Foi quando passei a perceber o movimento frenético no entorno.

Fim da primeira parte

...

Faz pouco tempo que percebo que aqueles que correram demais estão cansados. Casas vendidas, empregos perdidos, filmes que ninguém vê, livros que não dizem nada e nem são lidos por ninguém. O frenesi está em pausa e todo mundo está cabisbaixo. Eu que parei bem antes, sinto que estou uns dois passos à frente.

Início da parte dois.

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Um poema de Álvaro de Campos:

Não: devagar.
Devagar, porque não sei
Onde quero ir.
Há entre mim e os meus passos
Uma divergência instintiva.
Há entre quem sou e estou
Uma diferença de verbo
Que corresponde à realidade.

Devagar...
Sim, devagar...
Quero pensar no que quer dizer
Este devagar...

Talvez o mundo exterior tenha pressa demais.
Talvez a alma vulgar queira chegar mais cedo.
TaIvez a impressão dos momentos seja muito próxima...

Talvez isso tudo...
Mas o que me preocupa é esta palavra devagar...
O que é que tem que ser devagar?
Se calhar é o universo...
A verdade manda Deus que se diga.
Mas ouviu alguém isso a Deus?

...
Um pensamento:

Porque há certos lugares que é melhor não querer chegar.