Caridade
Ato da pessoa caridosa, daquela que quer doar(-se). O que deveria ser um movimento espontâneo tem sido um assunto que me incomoda bastante nos últimos tempos.
Sou cristã, com formação nas pastorais sociais, então princípios como solidariedade e fraternidade estão presentes na minha vida. Na minha crença também está: “... quando você der esmola, que a sua esquerda não saiba o que a sua direita faz...” (Mt 6-3). Então esta é uma ação individual, que se presta contas a si mesmo.
Mas eu tenho sido bombardeada pela caridade alheia. São muitos os que fazem seus trabalhos caridosos em um de seus dias de folga e alardeiam isso durante o resto do mês. E ainda tem o olhar de superioridade diante da minha falta de “solidariedade para com os outros”. E isso acontece em toda a parte.
Tenho que ouvir as pessoas falando bem do Luciano Huck, ou da Xuxa, pelo trabalho social importante de suas ONGs, que são sustentadas com apenas parte da grana de patrocínio que eles ganham motivando os que têm pouco dinheiro a comprar coisas de que eles absolutamente não precisam (por sorte ainda temos gente como a Katylene para espinafrar eventos como este e este).
Muitas vezes nem é preciso fazer algo concreto e precisar ter contato com os necessitados. Basta comprar cartões da AACD, ou adotar uma criança da LBV, e sair por aí dizendo que comprou e doou e pronto, o ato da caridade está feito. O mesmo tem acontecido com esta febre ecológica. Comprar uma ecobag, ou uma válvula para reduzir o uso da água, ou comprar um carro flex, é suficiente para quem quer fazer a sua parte (isso daria um bom slogan publicitário, aliás).
O que vejo é que as pessoas transferem para uns poucos momentos da vida o que deveriam fazer todo o tempo. Como é possível ser responsável, ou se sentir responsável, apenas uma vez por semana? Eu expio minha culpa, e ganho louros com isso me vangloriando por aí, mas não me importo de verdade com o resultado do que faço.
Há alguns anos o cineasta brasileiro Sérgio Bianchi, mais conhecido por Cronicamente Inviável, em que ele faz uma feroz crítica às instituições, lançou uma análise bem interessante sobre o universo das ONGs em Quanto Vale ou é Por Quilo.
Ele compara as atuais prisões com navios negreiros e cruza dados oficiais impressionantes, que revelam, por exemplo, que se somadas todas as doações realizadas às ONGs que cuidam de crianças de rua com as crianças catalogadas pelo governo (dados dos mais precisos do mundo, os colhidos no Brasil) daria para comprar um apartamento de dois quartos para cada criança a cada dois anos.
E para onde vai este dinheiro? Quem se importa, pois a responsabilidade de quem doa é entregar o dinheiro e isso já é toda a ação social de que a pessoa é capaz. O que está por trás de grande parte das ações caridosas, doações e afins, é a culpa, não a responsabilidade. Somos todos seres responsáveis pela realidade em que vivemos e é preciso assumir esta responsabilidade. Querendo ou não mudar o mundo, temos que ser, nós mesmos, os atores desta história e parar de transferir a outros a concretização do mundo ideal, que pode até ser o que já existe. Quando fazemos o que é de nossa responsabilidade, não se faz nada além de nossa obrigação. Para que ficar se vangloriando por isso?
Sou cristã, com formação nas pastorais sociais, então princípios como solidariedade e fraternidade estão presentes na minha vida. Na minha crença também está: “... quando você der esmola, que a sua esquerda não saiba o que a sua direita faz...” (Mt 6-3). Então esta é uma ação individual, que se presta contas a si mesmo.
Mas eu tenho sido bombardeada pela caridade alheia. São muitos os que fazem seus trabalhos caridosos em um de seus dias de folga e alardeiam isso durante o resto do mês. E ainda tem o olhar de superioridade diante da minha falta de “solidariedade para com os outros”. E isso acontece em toda a parte.
Tenho que ouvir as pessoas falando bem do Luciano Huck, ou da Xuxa, pelo trabalho social importante de suas ONGs, que são sustentadas com apenas parte da grana de patrocínio que eles ganham motivando os que têm pouco dinheiro a comprar coisas de que eles absolutamente não precisam (por sorte ainda temos gente como a Katylene para espinafrar eventos como este e este).
Muitas vezes nem é preciso fazer algo concreto e precisar ter contato com os necessitados. Basta comprar cartões da AACD, ou adotar uma criança da LBV, e sair por aí dizendo que comprou e doou e pronto, o ato da caridade está feito. O mesmo tem acontecido com esta febre ecológica. Comprar uma ecobag, ou uma válvula para reduzir o uso da água, ou comprar um carro flex, é suficiente para quem quer fazer a sua parte (isso daria um bom slogan publicitário, aliás).
O que vejo é que as pessoas transferem para uns poucos momentos da vida o que deveriam fazer todo o tempo. Como é possível ser responsável, ou se sentir responsável, apenas uma vez por semana? Eu expio minha culpa, e ganho louros com isso me vangloriando por aí, mas não me importo de verdade com o resultado do que faço.
Há alguns anos o cineasta brasileiro Sérgio Bianchi, mais conhecido por Cronicamente Inviável, em que ele faz uma feroz crítica às instituições, lançou uma análise bem interessante sobre o universo das ONGs em Quanto Vale ou é Por Quilo.
Ele compara as atuais prisões com navios negreiros e cruza dados oficiais impressionantes, que revelam, por exemplo, que se somadas todas as doações realizadas às ONGs que cuidam de crianças de rua com as crianças catalogadas pelo governo (dados dos mais precisos do mundo, os colhidos no Brasil) daria para comprar um apartamento de dois quartos para cada criança a cada dois anos.
E para onde vai este dinheiro? Quem se importa, pois a responsabilidade de quem doa é entregar o dinheiro e isso já é toda a ação social de que a pessoa é capaz. O que está por trás de grande parte das ações caridosas, doações e afins, é a culpa, não a responsabilidade. Somos todos seres responsáveis pela realidade em que vivemos e é preciso assumir esta responsabilidade. Querendo ou não mudar o mundo, temos que ser, nós mesmos, os atores desta história e parar de transferir a outros a concretização do mundo ideal, que pode até ser o que já existe. Quando fazemos o que é de nossa responsabilidade, não se faz nada além de nossa obrigação. Para que ficar se vangloriando por isso?
Comentários