Se achar melhor por se anular na vida



Eram duas mulheres conversando, do alto de suas superioridades morais (porque uma acha que a sua é a maior que a da outra).
Uma delas solta, quase batendo no peito, "nunca fui num churrasco sequer sem meus filhos, se eles não pudessem ir".
A outra ri nervoso, porque já foi em churrasco, mas bate no peito, essa sim, "nunca bebi, depois que meus filhos nasceram".
Olham pra mim. Respiro fundo. Digo que já bebi. Que já saí sozinha para beber, inclusive.
Elas não contém o olhar de reprovação, mas não querem brigar, dizem que "uma vez ou outra, por pouco tempo, não faz mal".
O rancor de uma vida jogada fora tentando ser transformado no orgulho de "uma vida honesta". Sei que falarão cobras e lagartos de mim, quando eu não estiver por perto.
Fiquei com pena na hora, mas imagino como eu serei julgada pelas duas, seria apedrejada até, se isso fosse permitido, porque me recuso a esse papel de não-vida por ser mãe.

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