um cheiro de rosas velhas no ar

Hoje penso nos mortos e nas mortes todas que acompanhei. Foram muitas, não sei se conseguiria contabilizar.
O primeiro enterro em que estive eu era muito pequena e só me lembro duma pequena plantinha da qual a gente pegou uma muda no cemitério e acabou virando um grande xaxim recheado em casa. Lembro do cheiro da terra e das pessoas chorando. Um silêncio que me oprimia e me deixava constrangida. Não sei nem se eu conhecia a pessoa que estava sendo enterrada.
Algum tempo depois um tio meu, que ainda era jovem, uns quarenta anos. Morreu de alcoolismo, ou algo assim, mas ninguém nunca disse isso claramente.
Depois a minha irmãzinha.
E tios, e primos em grande número. O irmão de uma colega de classe. A avó de uma colega de trabalho.
Minha sogra foi a última morte que acompanhei de perto.
Estou envelhecendo e não consigo estar mais tão perto da morte. Eu sei que ela existe, eu estive lá, perto dela inúmeras vezes. Mas agora não consigo mais. Mais pessoas se foram e eu simplesmente não consegui reagir, fisicamente pelo menos, não me movi ao encontro de mais uma experiência de morte. Chorei, revivo o luto de tempos em tempos, mas não quero mais a morte, esta das carpideiras, do drama extrapolado, perto de mim. Estou recolhida na minha experiência solitária de morte, a que acontece todos os dias.
Um dia serei eu, o que será normal, porque eu estou viva. E é nisso que preciso me concentrar. Estou viva e viver requer energia, que eu não posso gastar pensando somente na morte.

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