Sobre internet e direito de autor

Sou uma entusiasta da internet. Vejo infinitas possibilidades de informação e de acesso, sempre a partir de mim mesma e do que posso conseguir na rede, com outros ou sozinha, porque na internet posso me propor projetos mirabolantes sem depender de ninguém para concretizá-los.
É essa sensação que eu gosto, de ser eu mesma responsável por produzir, selecionar, conectar e disponibilizar coisas na rede. Como eu, são milhares, milhões, que dizem coisas, muitas que me interessam, a maioria delas não.
Mas não é a qualidade da informação (que tem a ver com a seleção por padrões culturais pessoais e não com o que importa ao mundo de verdade), mas a possibilidade de todos se tornarem autores o que me interessa de verdade.
Vi uma palestra com Eugênio Bucci em que se falava de pensamento e individualidade e ele afirmou que, mais do que ler bom livros, ver bons filmes, o que faz a pessoa afirmar sua individualidade neste tempo é a autoria. Tem espaço melhor que a internet para isso?

Uma conversa com um amigo levantou a questão da "má intenção da internet". Eu sempre defendo que uma coisa não pode ter intenções, ela apenas é. Quem tem intenções é quem a criou, mas, como filhos, as coisas podem tomar caminhos não previstos originalmente.
A internet foi criada com propósitos militares, durante a Guerra Fria.
Quem decidiu implantar a rede com foco de mercado foram as empresas telefônicas e de comunicação, associadas ou não. E tudo estava muito bem e gerando lucro quando era preciso dominar a linguagem html de programação para se publicar na rede e quando era preciso pagar para colocar um site na rede. Enquanto a conexão era lent a demais para se ver imagens, que em movimento eram ainda impensáveis.
Quando o primeiro programa de troca de arquivos apareceu, o Napster, ou algum parente que não cheguei a conhecer, a indústria cultural estremeceu e achou que tudo tinha sido resolvido quando um garotinho se tornou o mártir da pirataria após um longo processo iniciado pelo Mettalica.
Mas, logo em seguida, apareceu a chamada web 2.0, com suas redes sociais e blogs, criando infinitas possibilidades de troca de informações pela rede (não sei precisar datas, nem domino os eventos históricos deste período, este é apenas um breve panorama para chegar ao tema).
Com a web 2.0 os usuários viraram autores. Muita gente fala do absurdo que isso representa, pois não há filtro e muita coisa ruim é publicada. Eu acredito que o filtro não deve ser externo (tipo censura da qualidade cultural), mas do indivíduo e isso é reflexo da educação, das relações sociais, da situação econômica e todas essas coisas que fazem a cultura de um povo.
Essa é a possibilidade da produção cultural ser disponibilizada livremente, sem intermediários elitistas, que acreditam que seu ponto de vista, historicamente do lado vencedor, do dominante, é o único possível e aceitável, não digo nem se melhor ou pior.

As chamadas redes sociais, os blogs, que facilitaram muito a publicação de conteúdo, as redes P2P, ampliaram de um jeito nunca antes imaginado a possibilidade de se disponibilizar pensamentos (como faço agora) e acessar conteúdos (basta eu querer ver um filme, por exemplo, e é quase certo de que ele estará na rede). Uma sensação de liberdade me invade ao falar sobre isso.

Mas essa possibilidade sem controle, sem intermediários, tem deixado os detentores de poder e dinheiro de cabelo em pé. Leis de controle da internet e de direito autoral têm sido debatidas nos parlamentos de todo o mundo, com a possibilidade de quebra de privacidade dos usuários, inclusive.
A intenção parece ser de transformar todos os que buscam acesso ao conteúdo intelectual em piratas, criminosos. Sou contra o roubo de autoria de obras, do uso para lucro de obras de outros. Mas me tornar criminosa por ler um livro que, muitas vezes, não está disponível para compra, por ver um filme, por ouvir uma música?

Li alguém que dizia que esse acesso livre a informações é consierado direito adquirido pelas novas gerações e não há lei que vá mudar essa forma de ver as coisas. Enquanto essas gerações não assumirem o controle das coisas, teremos que lidar com propostas de marco regulatório da internet e do enrijecimento das leis de direito autoral.
Como li no twitter sobre a regulamentação do direito de autor no Brasil: "Quando fruir bens culturais compartilhados te torna um "fora da lei", algo precisa ser repensado!"


Para ler:
Experiência de troca de músicas por celular (do site da Trip)

Livro Além das Redes de Colaboração

Lei de Direito Autoral blog e twitter

Coletivo 300

Comentários

Olá, Roberta. Uma dica complementar nessa mesma área, embora no setor específico da televisão: o livro "Televisão na Era Digital", de Newton Cannito (à venda na livraria Cultura do Iguatemi-Brasília). Acho que você vai gostar, porque a propósito de discutir tv digital, Cannito acaba desenvolvendo toda uma tese sobre a cultura digital e a maneira com ela desorganiza padrões que estavam establecidos há tempos. òtimo livro. (a propósito0: tem um BIL no sopão que pode interessar ao BIL aí da sua casa)

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