A saga da seca

Nunca fui muito de prestar a atenção nos ciclos da natureza, creio que só no meu individual, já que sou parte dela também. Isso se deve, imagino, ao fato de ter nascido numa metrópole que tem a natureza altamente adulterada. Viver em João Pessoa me fez prestar atenção no por do sol, coisa que não acontecia antes. Isso só se intensificou em Brasília.
Mas aqui prestar atenção nos ciclos naturais é questão de sobrevivência, pois a umidade do ar por aqui se equivale à do Saara nesta época do ano. Hoje completa 114 dias sem chuva e, como todo ano, estou cheia de consequências físicas para isso. Resgatei um texto antigo, que é o mesmo que eu quero dizer e já disse sobre a seca.

Há muito tempo atrás, quando me falavam que Brasília tinha um clima de deserto, com um calor insuportável e seco durante o dia e frio à noite, eu tentava imaginar como seria isso. Não pensava muito, porque não imaginava que ia acabar morando aqui.
Depois de muitas voltas, o mundo acabou me trazendo pra cá, o que foi bom, e enfrentar esse clima desconhecido, o que está sendo um horror. Como boa paulistana, tenho rinite alérgica, que sempre acaba numa sinusite. Como lidar com sensação térmica de mais de 30º, como uma umidade de menos de 10%?
Apesar disso, a cidade fica com um aspecto muito bonito, o por do sol tem inúmeros tons de violeta, os ipês florescem com uma força sexual, as paineiras deixam o chão repleto de plumas (pareceria uma nevasca, não fosse o calor infernal). Mesmo assim meu mal estar não passa, pra completar agora começa a fase das cigarras, elas se acasalam pouco antes de voltar a chover e fazem um coral ensurdecedor (estou falando sério!), parece uma rave que não acaba nunca.
Tudo aqui é extremo, sei que quando começar a chover serão quatro meses encharcados e embolorados, que eu hoje espero ansiosamente, mas que vai encher o saco rapidinho. Pode ser que eu me acostume com isso tudo, por enquanto estou tentando me fixar nas belezas locais que são muitas. O cerrado é muito bonito e eu nunca tinha visto um céu como o daqui. Agora explica isso pro meu nariz!


(texto reciclado do meu antigo blog Documenta, escrito em outubro de 2004)

Comentários

Anônimo disse…
acho que esta é terceira republicação deste texto. fazer o que, eu gosto dele

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