De novo e de novo

 "Em caso de despressurização, máscaras cairão automaticamente. Puxe uma delas, coloque-a sobre o nariz e a boca ajustando o 

elástico em volta da cabeça e depois auxilie os outros, caso necessário."

Este ano eu comecei fingindo que tava dando conta, mas tava magra demais, doente emocionalmente, com medo o tempo todo, tentando controlar o pavor de algo horrível que iria acontecer.
Um passo de cada vez, comecei a me alimentar melhor, percebi que estava numa crise contínua de ansiedade que me tirou a vida funcional.
Apesar de tudo isso, consegui que meu filho não fosse afetado pela situação, o que deixou a coisa ainda mais solitária e pesada para mim, pois não podia externar o terror que estava por dentro.
Mesmo com todo esse esforço, pessoas completamente irresponsáveis emocionalmente decidiram que meu filho não deveria ser mais meu filho, mas isso só seria possível com meu consentimento, então pressionaram, chantagearam, agrediram. Ninguém olhou para mim, nunca. Mas, pior que isso, ninguém olhou para ele, quem está se tornando, como algo relacionado ao meu esforço. Essas pessoas morreram emocionalmente de maneira definitiva para mim. E esse foi o começo da cura nesse ciclo pesado.
Recuperei um tanto da clareza mental que tava ofuscada pelo pânico, pela penúria, pelo pavor de não dar conta. Estamos vivos, estamos fisicamente bem, o pequeno está crescendo seguro do que sente e fisicamente saudável. Isso é muito e mais do que eu pensei que fosse possível nesses tempos.
Olho hoje o que passou e conheci pessoas lindas, participei de uma mesa sobre literatura numa feira underground de literatura, algo que sempre sonhei.
Um texto meu virou referência bibliográfica num livro feminista.
Meu aniversário foi tranquilo, o aniversário do meu filho foi numa viagem ótima, o Natal foi bom. Tudo está melhorando.
Essa passagem de ano está sendo de gripe forte e repouso, mas acho que é o que precisamos juntos depois da jornada pesada nessa parcela de tempo.
Agora seguimos em frente, o que ficou pra trás, ficou, não posso fazer mais do que aguento.