A saga nunca termina, a vida vai te lembrar disso

Tem coisa que acontece e a gente quer fingir que não, ignorar e deixar passar, mas daí vai crescendo e tomando conta de tudo, um mofo que se propaga. Não dá mais para deixar passar, é preciso reagir. O ponto de inflexão (aquele no qual a curvatura de uma parábola muda sua trajetória) parece ter chegado.
Foi uma crise de pânico que me assolou, me deixou de cama, sentindo todo o desamparo que pensei que já tinha superado. Começou com uma frase "fizemos uma reunião familiar e decidimos que...", comecei a me sentir tonta a partir dali.
Há três anos e pouco, quando tudo mudou de repente, me entreguei ao desconhecido destino de uma vida nova que estava para chegar, literalmente. Sabia que a minha seria nova também. A primeira reação foi o pavor de ter que lidar com tudo sozinha, mas eu não estava só nesta jornada, tinha o parceiro, os amigos. E veio novamente a promessa de uma tranquila vida em família, essa instituição social que sempre me descartou. Senti que tinha sido esse o motivo de tudo, para ter o amparo que nunca antes.
Mas veio a frase "fizemos uma reunião familiar e decidimos que...", reunião para a qual não fui convidada, se existiu mesmo, mas isso nem importa, não sou mesmo familiar.
Pensei estar segura, fiquei exposta, vulnerável, precisando de amparo nas crises de ansiedade que não me deixam me mover, que tornam impossível pensar, o pânico que tem impedido de planejar qualquer saída material. O corpo se contorcendo de tensão, o coração acelerado.
Passei a não falar das minhas vulnerabilidades com ninguém. Nem do medo que tem controlado meus dias ou da certeza de que sou incapaz, essa que me paralisa. Ainda mais depois de saber que "fizemos uma...".
Estava apavorada. Falei com a irmã, que me deu uma alternativa de emergência, que pode ser acessada a qualquer momento. Falei com o amigo mais tranquilo e apaziguador que tenho e ele ficou furioso, parecia querer pegar a gente no colo e sair voando pela janela para nos colocar em um lugar seguro. Desabafei com amigas que ficaram em choque, daí percebi que não é só meu desequilíbrio emocional, esse desamparo familiar que carrego desde sempre, que fez tudo parecer tão grande.
Decidi ajudar meu corpo a reagir. Um calmante natural, uma homeopatia. O cérebro começou a funcionar melhor. Escrever. Estudar. Tudo parece começar a se desenhar novamente, a névoa saindo do caminho, um passo de cada vez, mas dessa vez passos realmente.
Corto em mim os afetos impossíveis novamente, cuido das feridas, que foram mais profundas do que eu imaginava, busco superar a ira que me tomou com o comunicado que foi dado seco num grupo de whatsapp: "fizemos uma reunião familiar e decidimos que vocês devem abrir mão da guarda do seu filho para...". Porque somos pobres, porque acham que não merecemos estar com ele. Mas ele nos escolheu e nós a ele.

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