Desabafo

"Deixa,deixa,deixa
Eu dizer o que penso dessa vida
Preciso demais desabafar"
Desabafo, Marcelo D2

Teve um tempo em que se pedia para um amigo um encontro para conversar e dizer as coisas que estavam te afligindo, um desabafo. Nesse tempo não tinha internet e ficávamos remoendo as dores, pensando várias vezes naquilo que aconteceu ou não aconteceu e que nos deixava apreensivos, tristes, amargurados ou algo nessa linha.

E quando os amigos estavam longe, as cartas mandavam as aflições escritas que demoravam dias para chegar e conselhos e afagos que demoram outros tantos dias para voltar.

Sim, o telefone ficou popular nesse meio tempo, mas nunca fez o meu gênero.

Foi com a internet que as dores não  precisaram mais esperar tanto. Comecei com os emails, que, no início, demoravam quase tanto quanto as cartas para serem respondidos, mas hoje podem funcionar como um chat, dependendo de quem seja o interlocutor.

Já falei deles, os chats, essas conversas escritas em tempo real, que não me ganharam de cara nos primeiros tempos de icq e messenger, só comecei a usá-los, e a maioria dos meus amigos também, quando vieram acoplados em serviços de email e redes sociais.


Até chegar nesse tempo de redes sociais, os desabafos eram parte de diálogos entre duas pessoas reais, que recebiam a mensagem e respondiam, quase sempre. Mas quando surgiu a possibilidade de dizer e muita gente ler, independente de saber do que se trata, ou a quem se refere, o desabafo ganhou outra cara e começou a ser dito como um grito para o mundo todo e pronto, não precisava de um interlocutor real. Daí foi deixando de ser desabafo e virando cutucão, porque a pessoa que gerou a angústia poderia estar lendo aquilo. E essa foi a deixa para isso tudo virar o mar de indiretas que leio, algumas vezes já escrevi, todos os dias.


O tempo do desabafo mudou ou mudou o tempo das angústias.

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